Pó enamorado: E as Montanhas Ecoaram, Khaled Hosseini

Khaled Hosseini retratou o amor filial   e o Afeganistão  e arrasou as tabelas. Outono de 1952, Afeganistão. Na aldeia isolada de Shadbagh, ...

domingo, dezembro 18, 2011

William Faulkner | Diga Yoknapatawpha




É um «condado apócrifo» e situa-se em Oxford, noroeste do Mississípi, numa cartografia imaginária criada pelo escritor William Faulkner (1897-1962, Nobel da Literatura 1950) para acolher a ação de 16 dos seus 19 romances. Yoknapatawpha, palavra que todos os fãs da grande literatura devem decorar, surgiu primeiro no romance Sartoris (ainda sob o nome de Yocona), regressado às livrarias em nova tradução (a anterior data de 1958) e com prefácio pela escritora Lídia Jorge.
Com 6200 metros quadrados de área e mapeado no romance Absalão, Absalão, o condado de Yoknapatawpha (o termo une duas palavras de um dialecto indígena local e, segundo o autor, significa: «a água deslizando lenta pela planície») é coberto por florestas de pinheiros e vastas plantações, propriedade de uma poderosa aristocracia branca esclavagista, cuja queda após a Guerra de Secessão Faulkner retrata nos seus livros. O coronel John Sartoris, falecido em 1876, cerca de 40 anos antes do início de Sartoris, será o fantasma-patriarca «de coisas esplendorosas e desastrosas» que tutela este território: um limbo entre um passado épico e um presente decadente em que se movem, como sobre areia movediça, algumas das magistrais personagens-sonâmbulas de Faulkner (os Sartoris, os Benbow e os Snopes). Assim se sucede uma década na história dos Sartoris que sobrevivem ao coronel: o filho, velho Bayard; a irmã, Miss Jenny; e o bisneto, jovem Bayard, recém-regressado da Primeira Guerra, assombrado pela morte do irmão-gémeo, depois casado com Narcissa Benbow.
Recusado por um primeiro editor que o achou «demasiado difuso», o romance de 600 páginas intitulado Flags in the Dust sairia por fim, em 1929, com o título Sartoris e menos 200 páginas. Faulkner considerou-o «O livro» e nele cabe, numa cadência bastante acessível, a essência dos seus conflitos: som, fúria e silêncio, escuridão e luz, perda e remorso, imitação ou rejeição, um diálogo amaldiçoado por espectros. O sul mítico faulkneriano é como «um sonho meio recordado», um mundo «onde o passado parece mais vivo do que os vivos» (Richard Gray). Difuso, sim, mas prenúncio da complexa captação da fluidez dos pensamentos das personagens que fará o melhor de Faulkner, sito em Yoknapatawpha.

Sartoris, William Faulkner, Publicações Dom Quixote, 351 págs.

SOL/29-07-2011
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)