Pó enamorado: E as Montanhas Ecoaram, Khaled Hosseini

Khaled Hosseini retratou o amor filial   e o Afeganistão  e arrasou as tabelas. Outono de 1952, Afeganistão. Na aldeia isolada de Shadbagh, ...

quinta-feira, novembro 25, 2010

José Cardoso Pires - Em Memória (1997)


Da mor­te, com hu­mor

Du­ran­te oi­to dias, o escritor Jo­sé Car­do­so Pi­res (1925-1998) es­te­ve sem me­mó­ria a lu­tar com a mor­te. Em De Profundis, Valsa Lenta con­ta co­mo um ho­mem po­de rir à gar­ga­lha­da quan­do diz adeus à vi­da. Em 1997, o livro apresentava-se assim:

O iní­cio do pe­sa­de­lo co­me­çou com uma per­gun­ta de car­ti­lha: «Co­mo te cha­mas?» A ma­nhã desse 12 Ja­nei­ro de 1995 es­ta­va cin­zen­ta, e pá­li­do co­mo ela Jo­sé res­pon­deu: «Pa­re­ce que é Car­do­so Pi­res.» Dois anos de­pois, o es­cri­tor ain­da pensa nes­te «é» que mar­cou uma per­da de iden­ti­da­de que du­rou oi­to dias. Aci­den­te vas­cu­lar ce­re­bral diag­nos­ti­ca­ram en­tão os mé­di­cos pe­ran­te um ho­mem a quem um coá­gu­lo de san­gue alo­ja­do no cé­re­bro rou­ba­ra a me­mó­ria e a ca­pa­ci­da­de de co­mu­ni­car. «Mor­te ce­re­bral», di­fun­diu a imprensa. Jun­tan­do­–se a to­dos aque­les que até ho­je re­la­ta­ram ex­pe­riên­cias de pro­xi­mi­da­de com a mor­te, tal­vez com­pe­li­do por aqui­lo a que os téc­ni­cos cha­mam «sín­dro­ma de Lá­za­ro», Jo­sé Car­do­so Pi­res (autor de A Balada da Praia dos Cães, O Delfim ou Alexandra Alpha) es­cre­veu De Pro­fun­dis, Val­sa Len­ta,  uma cró­ni­ca de co­mo a mor­te se lhe anun­ciou.

Os de­ta­lhes da his­tó­ria es­tão to­dos nes­te vo­lu­me de 69 pá­gi­nas. Re­jei­tan­do as ex­pli­ca­ções mé­di­cas e ba­sean­do­–se ape­nas no re­la­to de quem o acom­pa­nhou e na sua par­ca «me­mó­ria du­ma des­me­mó­ria», Car­do­so Pi­res des­cre­ve uma «mor­te bran­ca». E ri­–se, ri­–se mui­to a ca­da pá­gi­na, mos­tran­do os den­tes como serras. A iro­nia da coi­sa, só a per­ce­beu de­pois de ter des­pe­ja­do as pa­la­vras to­das no pa­pel e ao es­co­lher o sub­tí­tu­lo. Val­sa Len­ta, sa­bo­rea­da a ca­da pas­so, com o bra­ço a fa­zer fi­gas por trás da cin­tu­ra da mor­te. Ex­pli­ca: «A iro­nia do re­la­to não foi pro­po­si­ta­da. Só de­pois per­ce­bi que há um hu­mor na mor­te quan­do vis­ta à dis­tân­cia.»

MORTO DE RISO

Há uns me­ses, ao en­con­trá­–lo com o espírito em forma, al­guém lhe dis­se: «Es­tá com um óp­ti­mo as­pec­to.» A res­pos­ta saiu­–lhe mor­daz e sem pon­to de ex­cla­ma­ção. «Pois, não es­tou mor­to.» In­cons­cien­te­men­te, o sar­cas­mo to­ma­ra con­ta do seu ca­so. Co­mo acon­te­ce­ra já com ou­tros, lem­bra ho­je, sen­ta­do no seu es­cri­tó­rio da ca­sa de Lis­boa.
Fa­la no ca­so de um con­de­na­do à mor­te nos EUA que an­tes de ser le­va­do pa­ra o lo­cal da exe­cu­ção pá­ra a lei­tu­ra de um li­vro e do­bra o can­to da pá­gi­na on­de fi­cou. Ou do es­cri­tor Rus­sel Baker que con­ta co­mo um dia a sua avó lhe te­le­fo­na e diz: «É só pa­ra sa­ber se vais ao meu fu­ne­ral ho­je à tar­de.» Ma­ra­vi­lhas de hu­mor ne­gro, cha­ma­–lhes Car­do­so Pi­res. Com­pa­rá­veis às con­ver­sas dos dois ho­mens com quem par­ti­lhou o quar­to no Hos­pi­tal de San­ta Ma­ria, «dois pas­sa­rões ar­rui­na­dos, a agre­di­rem­–se e sem cons­ciên­cia de que se re­fu­giam no hu­mor pa­ra fu­gir ao me­do que têm da mor­te». Ou a co­mo se cha­ma­va «feio» a si pró­prio, far­to de pro­cu­rar ou­tro no­me na me­mó­ria. Ou à imen­sa pro­sá­pia com que pen­sa­va res­pon­der cer­to aos in­qué­ri­tos bá­si­cos dos mé­di­cos. «On­ze me­nos no­ve quan­tos são?» «Na­da, se­nho­ra dou­to­ra. Qual­quer coi­sa no­ves fo­ra é na­da.»
Só quem vol­tou pa­ra con­tar é que po­de rir­–se as­sim, ga­ran­te o es­cri­tor. «Tu­do o que diz res­pei­to à mor­te ou à sua apro­xi­ma­ção é vi­vi­do sem hu­mor, por­que, por na­tu­re­za, ela ins­pi­ra pâ­ni­co e não nos dei­xa ver es­se la­do. Quan­do nos sa­fa­mos de­la, fi­xa­mos. Sa­ta­nás de­ve­–se far­tar de go­zar, e com ra­zão, com os si­nais de hu­mor da mor­te. O que eu vi na­que­le hos­pi­tal, o que eu sen­ti... tu­do aqui­lo tem um hu­mor ter­rí­vel.»

EU ESTIVE LÁ

Pas­sou pe­la mor­te, Jo­sé? «Pen­so que foi um re­gis­to do que po­de­rá ser. Um apa­ga­men­to que só não foi co­mo a mor­te por­que não era ab­so­lu­to. Às ve­zes, vi­nham cla­rões, lam­pe­jos de me­mó­ria... Co­mo o mo­men­to em que olho pa­ra a pa­la­vra «BA­NHO», ve­jo o «B» e o «N» in­ver­ti­dos, pas­sa­–me uma le­gen­da na ca­be­ça e per­gun­to­–me se não es­tou a ca­mi­nhar pa­ra a lou­cu­ra.» Car­do­so Pi­res so­freu um aci­den­te vas­cu­lar ce­re­bral (AVC) transitório porque não implicou uma lesão cerebral significativa. Os ACV, alterações da estrutura das artérias causadas por factores de risco como o envelhecimento ou a hipertensão, é in­di­ca­do pe­la Or­ga­ni­za­ção Mun­dial de Saú­de co­mo a principal cau­sa de mor­te nos paí­ses de­sen­vol­vi­dos. Em Portugal, surge à frente do enfarte do miocárdio. Mais de 140 mil nor­te­–ame­ri­ca­nos mor­rem anual­men­te por es­te mo­ti­vo e representam ape­nas três por cen­to do to­tal de in­di­ví­duos afec­ta­dos. Ou­tro ter­ço sai des­ta ex­pe­riên­cia com in­ca­pa­ci­da­des per­ma­nen­tes, en­tre elas a in­co­mu­ni­ca­bi­li­da­de to­tal. Sor­te ou maes­tria da Ciên­cia, o es­cri­tor po­de ho­je di­zer que con­se­guiu fu­gir «a uma mor­te amá­vel».
Dis­sol­vi­da a me­mó­ria, em­bo­ta­da a sen­si­bi­li­da­de e so­fren­do de uma afa­sia fluen­te gra­ve, «não era ca­paz de ge­rar as pa­la­vras e cons­truir as fra­ses que trans­mi­tis­sem as ima­gens e os pen­sa­men­tos que al­gu­res no seu cé­re­bro iam ir­rom­pen­do». As­sim o  des­cre­ve o neuroci­rur­gião João Lo­bo An­tu­nes na sua Car­ta a um Ami­go­–No­vo, pre­fá­cio pa­ra De Pro­fun­dis. E mes­mo nes­te es­ta­do, Car­do­so Pi­res in­ven­ta­va um neo­lo­gis­mo pa­ra no­mear todos os ob­jec­tos: «si­mo­so».
De­ci­diu de­pois criar um epí­te­to pa­ra aqui­lo por que pas­sa­ra. Cha­mou­–lhe «mor­te bran­ca e nu­la». Por­que era as­sim que olha­va o mun­do. «Via as pes­soas mas não as re­co­nhe­cia — só re­co­nhe­cia a mi­nha mu­lher e, por ve­zes, es­que­cia­–me do no­me de­la. Tu­do ti­nha uma cla­ri­da­de es­pan­to­sa e as pes­soas per­diam o vul­to. Não en­con­trei Nos­sa Se­nho­ra, nem Sa­ta­nás, nem nin­guém. Tu­do era bran­co e nu­lo.», con­ta.

ACIDENTE, TRANSITÓRIO

O re­la­to de cal­ma coin­ci­de com as re­fle­xões so­bre a near­–death ex­pe­rien­ce apre­sen­ta­das por Sherwin B. Nu­land, pro­fes­sor de Ci­rur­gia e His­tó­ria da Me­di­ci­na na Uni­ver­si­da­de de Ya­le, no seu li­vro How We Die. Se­gun­do ele, a paz sen­ti­da por quem es­teve mui­to per­to da mor­te cor­res­pon­de a um «me­ca­nis­mo de­fen­si­vo de des­per­so­na­li­za­ção», re­sul­ta­do de uma evo­lu­ção bio­ló­gi­ca de mi­lhões de anos que tem co­mo fun­ção pre­ser­var a vi­da das es­pé­cies. Car­do­so Pi­res re­fe­re o qua­se com­ple­to des­pren­di­men­to com que olha­va tu­do à sua vol­ta. Co­mo um an­cião que in­cons­cien­te­men­te se des­li­ga dos afec­tos por­que sa­be que vai mor­rer em bre­ve. «Des­li­ga­va­–me das coi­sas por­que sa­bia que só era ca­paz de as fi­xar du­ran­te al­guns se­gun­dos. Acei­ta­va o mun­do com um fa­ta­lis­mo tran­si­gen­te.», des­cre­ve. Ci­ta­do no li­vro de Nu­land, o psi­có­lo­go Ke­neth Ring en­tre­vis­tou 49 pessoas que haviam sido de­cla­ra­das co­mo cli­ni­ca­men­te mor­tas, por doen­ças ou le­sões re­pen­ti­nas. A gran­de maio­ria in­di­ca co­mo ele­men­tos bá­si­cos da sua ex­pe­riên­cia «paz, sen­sa­ção de bem es­tar, se­pa­ra­ção do cor­po, en­tra­da na obs­cu­ri­da­de, per­cepção da luz e en­tra­da na luz».
Ho­je, sen­ta­do no seu es­cri­tó­rio da ca­sa de Lis­boa, Jo­sé Car­do­so Pi­res re­lem­bra co­mo, ao sair do Hos­pi­tal de San­ta Ma­ria nu­ma ma­nhã de In­ver­no, se sen­tiu pro­fun­da­men­te re­co­nhe­ci­do e ge­ne­ro­so. «O mun­do era uma coi­sa es­pan­to­sa, as co­res ti­nham mu­da­do... Não sei se era Pri­ma­ve­ra ou se fui eu que a fiz. Apenas noutro momento da vida — com a minha mulher, antes de casarmos — me senti tão agradecido por estar vivo.» De vol­ta a ca­sa e num ges­to mui­to pou­co ha­bi­tual, cor­reu pa­ra a sa­la on­de co­me­ça­ra o pe­sa­de­lo. «Lem­bro­–me que fiz o mes­mo que os ga­tos: uma es­pé­cie de fi­xa­ção do ter­re­no. Dei a vol­ta à ca­sa, sen­tei­–me nes­te es­cri­tó­rio que nun­ca uso e, a co­mer o par­go co­zi­do que pe­di­ra pa­ra jan­tar, es­ti­ve uma da­ta de tem­po sem pen­sar em na­da, co­mo se es­ti­ves­se bê­ba­do, imen­sa­men­te gra­to a um mun­do que me pa­re­cia ab­so­lu­ta­men­te ma­ra­vi­lho­so.» O en­can­ta­men­to du­rou um mês, du­ran­te o qual mu­dou mui­to, «pa­ra me­lhor». De­pois, «tu­do vol­tou ao nor­mal».

FÉ NA CIÊNCIA

Pro­fun­da­men­te cép­ti­co, o es­cri­tor pas­mou pe­ran­te a sua to­tal re­cu­pe­ra­ção, ope­ra­da tão subi­ta­men­te quan­to a que­da no va­zio. «O fas­ci­nan­te dis­to tu­do é que não hou­ve re­cu­pe­ra­ção ne­nhu­ma. Tu­do se pas­sou co­mo se fos­se um des­maio súbi­to, um so­no mis­te­rio­so. Co­mo um ti­po que põe o su­jei­to e o pre­di­ca­do nu­ma fra­se, pá­ra a meio e de­pois re­gres­sa pa­ra lhe co­lo­car o com­ple­men­to. Foi uma es­pé­cie de mi­la­gre pa­ra o qual não con­tri­buí na­da», ex­pli­ca. As­sim, só ti­nha duas so­lu­ções: «Ou ia a Fá­ti­ma de joe­lhos ou agra­de­cia aos mé­di­cos.» Ca­tó­li­co pra­ti­can­te até aos 15 anos — «a mi­nha mãe era uma ca­tó­li­ca fer­vo­ro­sa e, por is­so, fui cria­do nu­ma igre­ja um pou­co de cam­pa­ná­rio: aliás, de on­de sai­ram mui­tos agen­tes da Pide...» —, ateu des­de en­tão, Car­do­so Pi­res es­co­lheu a se­gun­da via. E fi­cou­–lhe um pro­fun­do des­lum­bra­men­to pe­la Ciên­cia e por mé­di­cos que, co­mo João Lo­bo An­tu­nes, «são gran­des na sua pro­fis­são, es­tão li­ga­dos à hu­ma­ni­da­de e ao co­ra­ção e, ao mes­mo tem­po, têm um hu­mor cria­ti­vo.»
Nun­ca fez ba­lan­ços de vi­da — «tam­bém não me con­vi­nha fa­zê­–los...» — e jul­ga a mor­te como fazia an­tes: «Não há imor­ta­li­da­de. Mor­re­mos e mor­re tu­do.» No en­tan­to, não dei­xa de lhe con­fes­sar o me­do, se­gu­ro ape­nas pe­la con­fian­ça na Ciên­cia. Fi­ca­ram­–lhe per­gun­tas sol­tas — co­mo «um ho­mem sem me­mó­ria po­de so­nhar?» —, um pro­fun­do in­te­res­se pe­la eu­ta­ná­sia — que de­fen­de acer­ri­ma­men­te —, e a ple­na con­vic­ção de que «a mor­te é um dos maio­res ne­gó­cios do mun­do». Pa­ra a sua, pe­de dig­ni­da­de, «sem do­res nem hu­mi­lha­ções». En­tre­tan­to, aos 71 anos, exer­ci­ta os seus maio­res pra­ze­res: «Des­co­brir que to­dos os dias os per­de­mos mas que es­ta­mos já a des­co­brir ou­tros.»

* Voltar à palavra *

Tão inesperadamente como a perdeu, José Cardoso Pires recuperou a linguagem. Alexan­dre Cas­tro Cal­das, pro­fes­sor ca­te­drá­ti­co de Neu­ro­lo­gia da Fa­cul­da­de de Medicina de Lis­boa, dirige o Centro de Estudos Egas Moniz e acompanhou o seu caso.

«Des­de o iní­cio do sé­cu­lo XIX que a ciên­cia se tem preo­cu­pa­do com as ba­ses bio­ló­gi­cas que sus­ten­tam a ca­pa­ci­da­de de uti­li­zar a lin­gua­gem. Os mo­de­los ge­ra­dos são pro­gres­si­va­men­te mais com­ple­xos e acei­ta­–se ho­je que exis­tem re­giões do cé­re­bro par­ti­cu­lar­men­te en­vol­vi­das nes­sa ac­ti­vi­da­de. Is­so sig­ni­fi­ca que quan­do se fa­zem es­tu­dos em in­di­ví­duos nor­mais com as no­vas téc­ni­cas de ac­ti­va­ção ce­re­bral al­gu­mas re­giões do he­mis­fé­rio ce­re­bral es­quer­do e ra­ras do di­rei­to evi­den­ciam­–se du­ran­te a exe­cu­ção de ta­re­fas ver­bais. Da mes­ma for­ma, é já conhecido que uma le­são ce­re­bral que des­trua es­sas re­giões pro­vo­ca tam­bém al­te­ra­ções de lin­gua­gem.
Is­to não quer di­zer que a fun­ção lin­gua­gem se en­con­tra nes­tes lu­ga­res nem que se con­si­de­ra uni­di­men­sio­nal. A aqui­si­ção da lin­gua­gem oral e pos­te­rior­men­te a apren­di­za­gem da lin­gua­gem es­cri­ta in­tro­duz no sis­te­ma ner­vo­so em de­sen­vol­vi­men­to, es­tra­té­gias or­ga­ni­za­ti­vas es­pe­cí­fi­cas. Quan­to às di­fe­ren­tes di­men­sões da lin­gua­gem é pos­sí­vel de­com­por o pro­ces­so em ope­ra­ções múl­ti­plas pa­ra as quais se iden­ti­fi­ca a par­ti­ci­pa­ção de ope­ra­do­res ce­re­brais pró­prios.
Quan­do uma le­são des­trói es­te ar­ran­jo de neu­ró­nios a fun­ção per­tur­ba­–se po­den­do es­tar com­pro­me­ti­das as ca­pa­ci­da­des de pro­du­zir dis­cur­so, de com­preen­der, de re­pe­tir, de es­cre­ver e ou­tras, de for­ma iso­la­da em di­fe­ren­tes com­bi­na­ções, sen­do ain­da pos­sí­vel fa­zer uma aná­li­se de com­po­nen­tes de ca­da uma des­tas fun­ções. Con­for­me a na­tu­re­za, a lo­ca­li­za­ção e a di­men­são da le­são que afec­tou o cé­re­bro a dis­fun­ção se­rá maior ou me­nor e mais ou me­nos du­ra­dou­ra.
Nos ca­sos mais gra­ves, por­que a le­são é ex­ten­sa e fo­ram des­truí­das re­giões fun­da­men­tais pa­ra o pro­ces­so da in­for­ma­ção ver­bal, os doen­tes fi­cam pri­va­dos de co­mu­ni­ca­ção atra­vés da lin­gua­gem pa­ra o res­to da vi­da. Nes­tes ca­sos ad­qui­rem for­mas al­ter­na­ti­vas de co­mu­ni­ca­ção que a fa­mí­lia e ami­gos mui­tas ve­zes apren­dem a des­codi­fi­car e ren­ta­bi­li­zar até à má­xi­ma efi­cá­cia.
Fe­liz­men­te nem sem­pre as­sim é, e re­gis­ta­–se uma re­cu­pe­ra­ção das fun­ções per­di­das, sem­pre que pos­sí­vel com o apoio de te­ra­peu­tas da fa­la. Es­ta re­cu­pe­ra­ção as­sen­ta em va­riá­veis, al­gu­mas co­nhe­ci­das ou­tras não, que têm a ver com o rear­ran­jo fun­cio­nal das re­des neu­ro­nais.»


VISÃO/ Maio de 1997
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)